Extrair valor dos dados é chave para o sucesso na transformação digital

A transformação digital está no centro da agenda. Digitalizar e otimizar processos é a chave para vingar num mercado cada vez mais competitivo, mas traçar estratégias de sucesso vai muito além da adoção de ferramentas de TI. É preciso saber usá-las para descobrir novas oportunidades de negócio e tirar melhor partido das que já se exploram, uma mensagem subjacente às apresentações que esta manhã passaram pelo evento Data Science and Big Data in Digital Transformation, organizado pela IDC e pela NOVA IMS.
«60 a 70% da informação das empresas não é trabalhada para gerar informação de negócio”, sublinhou no evento Luís Grincho, responsável pela área de bases de dados e tecnologia da SAP Portugal. O Big Data é o caminho para alterar este cenário e empresas como a SAP ou a Oracle aproveitaram o evento para mostrar em que medida as suas ofertas estão a ser trabalhadas para o permitir. À margem do fórum Luís Grincho confirmou ao Ntech.News que as empresas portuguesas estão a despertar para esta realidade e que já existem investimentos e apostas interessantes neste domínio, com elevado potencial de ganhos para a eficiência das organizações.
Pelo auditório da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa também passaram alguns exemplos, como o da Sociedade Portuguesa de Autores, que está a usar o Big Data para processar os milhares de registos de informação que todos os meses tem de analisar, para garantir que os autores que representa são remunerados sempre que as suas músicas são ouvidas nas mais diversas plataformas digitais, em Portugal e no resto do mundo.
Como explicou Cláudia Moreira, coordenadora do departamento de informática da SPA, os serviços digitais, como o Spotify, o YouTube e outras plataformas do género, vieram aumentar em muito o volume e a complexidade do processo de análise que a SPA tem de fazer para reclamar direitos dos seus autores. O Big Data ajudou a simplificar o processo e a reduzir o tempo de análise de relatórios, de cerca de duas semanas, para menos de duas horas. Os parceiros tecnológicos do projeto, que já está a expandir-se a novos fins, são o SAS e a Timwe. Cláudia Moreira explicou, que os dados analisados para extrair informação sobre direitos de autor a reclamar, já estão a ser trabalhados para fornecer outro tipo de informação, como ajudar a identificar as geografias onde cada autor ou cada música de um autor tem maior procura.
Pelo mundo, outros exemplos de uma utilização cuidada e minuciosa dos dados revelam que a capacidade das empresas para explorar novas áreas de negócio e encontrar novas fontes de receita, transformando os seus negócios multiplicam-se. Fernando Bação, subdiretor da Nova IMS e diretor do Centro de Investigação MagIC, partilhou alguns. Referiu o exemplo da Amazon, que consome quase todo o lucro anual no lançamento de novos produtos e serviços e na exploração de novas oportunidades, que identifica graças a uma aposta cuidada na exploração de toda a informação que tem ao seu dispor, através dos negócios que a ligam a clientes e fornecedores. Referiu igualmente o Spotify, que está a aproveitar a informação gerada pelos utilizadores, quando criam ou subscrevem playlists temáticas, para os ligar diretamente aos anunciantes. Os anunciantes garantem a oportunidade de anunciar um produto na altura mais propicia – uns ténis, enquanto o utilizador está a correr, por exemplo – e o serviço de streaming ganha uma nova fonte de receita.
Os resultados obtidos por estas e outras empresas suportam a convicção de Fernando Bação de que «é importante para todas as organizações terem capacidade de perspetivar o que vem a seguir», e preparar-se para isso. O responsável defende que, com o investimento que a generalidade das empresas já fez em infraestrturas tecnológicas, acumulam-se dados que não estão a ser aproveitados e que podem ser a base de novos subprodutos. A informação base para os criar já lá está, falta trabalhá-la e transformá-la em valor, com a garantia de que o custo fixo de desenvolver um produto a partir daí será inferior ao de um projeto que parte do zero, defende.
Para Fernando Bouça «todos os negócios vão mudar de forma muito significativa». Para estarem preparadas as empresas têm de «criar internamente condições para explorar cenários» e tentar antecipar o que aí vem. Na sua perspetiva, mudanças radicais como veio impor a introdução do código de barras no retalho são cada vez mais prováveis, à medida que os negócios fazem um uso intensivo da informação. Tentar, falhar e aprender com os erros é a preparação possível e a melhor possível, rematou.
Publicado em:
AtualidadePartilhe nas Redes Sociais