Falta de confiança atrasa inovação no Estado

«Há um alargado número de países onde os cidadãos não gostam que o governo recolha informação sua e que a utilize.» Quem o diz é Christian Wernberg-Tougaard, Global Lead, Social Welfare & Human Services da Oracle que acredita que esse «é um dos grandes problemas que actualmente os governos enfrentam».
A situação leva a que «um alargado número de governos tenha problemas em criar serviços inovadores para os seus cidadãos».
Christian Wernberg-Tougaard recorda que, por exemplo, em Portugal «há problemas com o facto de a Constituição dizer que não se pode partilhar informação entre instituições». Esse «não é o caso nos países nórdicos que desde há vários anos têm a capacidade de recolher todo o tipo de informação que conseguem dos seus cidadãos». Mas a verdade é que «também o fazem porque existe uma relação de confiança com os próprios cidadãos que acreditam que o governo vai fazer o melhor possível por si».
Portanto, a percepção é que «eu enquanto cidadão serei capaz de retirar mais valor pelo simples facto de dar os dados ao governo».
E a verdade é que, diz o responsável da Oracle, «esta falta de confiança não está a ajudar os governos em todo o mundo no seu processo de digitalização já que não existe terreno fértil para lhes disponibilizar a próxima geração de soluções eficazes». Para o fazer é preciso que exista «uma boa recolha de informação base, ou seja, saber onde vivem os cidadãos, como é constituída a sua família, etc.».
Como é que se pode dar a volta a esta situação? Christian Wernberg-Tougaard acredita que a resposta passa pelos governos «começarem um processo em que comunicam, em que incluem e mostram aos cidadãos o que é que eles podem obter de benefícios pelo simples facto de partilharem a sua informação». E é exactamente aqui que as tecnologias podem dar uma ajuda, nomeadamente os novos media sociais: «Para se comunicar de forma mais eficaz devemos utilizar novas ferramentas como os media sociais. Vemos que os governos mais avançados tecnologicamente estão a começar a utilizar os media sociais como forma de interagir com os seus cidadãos.»
E, se antigamente, nesses países, se pegava num telefone e ligava para um call center quando surgiam dúvidas, «actualmente a tendência é que as pessoas passem a recorrer ao Facebook e a todas as novas formas de comunicação e novos canais para obterem essa informação». Feitas as contas, trata-se de «uma enorme mudança de paradigma» acredita o responsável da Oracle.
Christian Wernberg-Tougaard recorda que existem «várias classificações relativamente à maturidade do governo electrónico entre os países», defendendo que «quanto mais elevado um país estiver no ranking, mais desperto está para o tipo de impacto que os media sociais podem ter na comunicação com os cidadãos e no aumento de confiança destes».
«Um governo alemão ou sueco, por exemplo, nunca irá colocar os seus dados de Segurança Social na China, por exemplo.» Christian Wernberg-Tougaard, Oracle
Mas a falta de confiança não é o único problema a ultrapassar, diz este responsável, já que existe também «uma questão da transparência a ter em conta». A trabalhar nesta área, a Open Government Partnership «é um bom exemplo a analisar». Trata-se de «uma espécie de colaboração que se estabeleceu entre uma série de governos em todo o mundo, para seguir uma série de princípios relacionados com a transparência». O que isso significa em termos de digitalização «é que passamos a ter dados abertos, porque os governos estão a devolver à sociedade todos os dados que recolhem em vez de os venderem, como faziam anteriormente», explica Christian Wernberg-Tougaard.
Ao mesmo tempo, esta maior transparência ajuda também «a mostrar o que é que se está a fazer dentro do sector público» já que são «poucas as pessoas que sabem realmente o que acontece dentro desta enorme caixa preta chamada governo».
Cloud: sim ou não?
Sob o ponto de vista tecnológico, muito se tem falado nas vantagens da adesão da Administração Pública à cloud.
Christian Wernberg-Tougaard acredita que ainda existem e vão continuar a existir «reservas dos governos em relação à cloud global». Na verdade, «um governo alemão ou sueco, por exemplo, nunca irá colocar os seus dados de Segurança Social na China, por exemplo». No entanto, o responsável da Oracle acredita que será possível «abraçar modelos em que os centros de dados estão perto dos países de origem, como aliás já acontece actualmente na União Europeia e, claro, nos Estados Unidos».
No sector público, a melhor hipótese talvez seja «a cloud híbrida» que «combina o melhor dos dois mundos, permitindo ter coisas dentro de casa e depois algo fora, na cloud, sem expor a identidade do cidadão». No entanto, nesta matéria, ainda existe «um longo caminho a percorrer».
Nesta e em outras áreas, a Oracle «pode dar uma preciosa ajuda» já que conta «com técnicos que conhecem bem todas as vertentes e elementos das nossas soluções para o sector público», ao mesmo tempo que tem também «especialistas que conhecem bem o sector público, as suas necessidades de transformação e o que deve ser feito para se tornar mais eficiente».
A Oracle disponibiliza assim «uma oferta end-to-end quer em termos de tecnologia, mas também pelo facto de ajudar a perceber de que forma essa mesma tecnologia se pode aplicar a cada indústria, desde a Segurança Social, aos impostos, à saúde ou a qualquer outra área dentro da AP».
Exemplos que falam português
Em Portugal, a Oracle tem vindo a trabalhar muito de perto com um vasto conjunto de entidades da Administração Pública. Christian Wernberg-Tougaard, Global Lead, Social Welfare & Human Services da Oracle explica que um bom exemplo «é a Segurança Social portuguesa» que recorreu à multinacional norte-americana no âmbito da sua «transformação digital» pegando «na tecnologia e tornando o ecossistema mais eficiente e dinâmico com o intuito de disponibilizar aos cidadãos serviços em real time». Claro que «o trabalho ainda não está concluído, mas vai no bom caminho», remata Christian Wernberg-Tougaard.
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