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Falta estratégia no mapa de transformação digital das empresas em Portugal

Publicado em 28 Setembro 2016 | 1229 Visualizações

Nos últimos anos a crise penalizou a capacidade de investimento em TI das empresas portuguesas, mas os projetos com capacidade para levar as organizações a fazer a transformação digital dos seus negócios existem. A questão fundamental é saber se estão enquadrados numa visão global e num roadmap específico. José Carlos Gonçalves, vice-presidente sénior da CGI para o sul da Europa e Brasil afirma, que em muitos casos não e está a dar voz aos clientes.

O responsável identifica no país uma tendência clara para racionalizar os custos de operação de TI, novas iniciativas de governo e gestão da informação para extrair insights que apoiem os processos de decisão e um esforço claro no que se refere à proteção da organização e dos seus clientes de ataques cibernéticos.

Ntech.News – O estudo recentemente divulgado pela CGI mostra um grande alinhamento em torno da necessidade, por parte das empresas, de implementar ações e soluções que as encaminhem para a transformação digital. Em Portugal esta conclusão também se aplica?
Sem dúvida. É uma tendência global que não é ditada pela geografia mas sim pelo consumidor da era digital (cada vez mais globalizado) e pela pressão sentida nos mercados ao nível da competitividade (mais rápido, com menos custos de operação, proporcionando uma melhor experiência). No entanto, há claramente sectores que endereçaram a transformação dos seus modelos de negócio (pessoas, processos e tecnologia) com mais assertividade e urgência que outros, por estarem mais «perto» do consumidor como sejam o Retalho, Banca e Comunicações.

Isso materializa-se, de facto, já hoje em investimentos significativos no nosso país ou ainda estamos mais ao nível das intenções?
Há claramente investimentos significativos. A questão que se coloca é se estão enquadrados numa visão global / roadmap de transformação da organização ou se constituem iniciativas mais ou menos departamentalizadas.
Notamos uma clara tendência para racionalizar os custos de operação de TI (ao nível da modernização e de novos modelos de operação – SaaS, PaaS, Cloud, Outsourcing, etc.), o surgimento de diversas iniciativas de governo e gestão da informação que permitam extrair insights que melhore substancialmente o processo de tomada de decisão – idealmente em tempo real, a implementação de processos mais inteligentes e mais automatizados e claro, a proteção da organização e dos seus clientes de ataques cibernéticos.
De qualquer forma, cerca de 60% dos nossos clientes afirma estar ainda na fase de investigação e experimentação. A CGI posiciona-se como um parceiro de referência para os acompanhar nesta viagem de transformação.

Em que áreas as empresas estão a reforçar mais os seus investimentos para dar este salto? Ou, dito de outra forma, onde encontra maiores gaps e em que sectores, para tornar realidade este conceito de digitalização total dos negócios, entre as empresas que operam em Portugal?
Notamos que as indústrias mais «Consumer Intensive» têm liderado o investimento em transformação, pela pressão colocada pelo cliente final ao nível da experiência. Talvez seja este o gap fundamental a conhecer: a diferença entre a expectativa (experiência desejada) e a realidade (experiência real). A identificação deste gap deve preceder a definição do roadmap de transformação.
Diminui-lo pode pressupor investimentos de natureza diversa, dos processos à tecnologia, nos vários canais da organização, no desenvolvimento de produtos e serviços, etc.
Depois, existe uma crescente pressão regulamentar que se faz sentir mais em determinados sectores (financeiro por exemplo) que noutros e que claramente condiciona os investimentos em inovação e transformação dos modelos de negócio.
O tema da ciber-segurança é também obrigatório e constitui igualmente um foco de atenção e investimento crescente.

O vosso estudo mostra que a segurança, a maior disponibilidade dos consumidores para experiências digitais e as exigências regulamentares têm grande peso na necessidade de mudança que a maioria dos gestores agora identifica. Em Portugal estes três aspetos têm pesos idênticos ou há algum que se destaque?
O cumprimento de exigências regulamentares, talvez pelo seu carácter obrigatório e penalizador no curto prazo para as instituições, tem de facto assumido um papel importante.
Identificamos também, cada vez mais, projetos focados no cliente final, como sejam a melhoria da experiência do utilizador quando em contacto com os diversos touch-point/canais da organização e da usabilidade de interfaces, o redesenho de processos mais eficientes, o desenho de documentos interativos, entre outros.
Talvez o tema da segurança possa ter estado até hoje na segunda linha de prioridade, mas será com certeza por pouco tempo.

Outra referência do documento vai para a intenção dos gestores em manterem ou aumentarem o orçamento TI. Qual é a realidade em Portugal, têm dados? 
Portugal, pelo cenário económico dos últimos anos, tem sentido uma diminuição acentuada dos orçamentos de TI. Esta diminuição, no nosso entender, torna-se ainda mais relevante para as organizações quando o pouco orçamento disponível financia a operação «as-is» (o que chamamos de run) e não permite investir em inovação, em transformação do IT (que denominamos por change) para responder eficazmente às necessidades do negócio.
Temos trabalhado com os nossos clientes na construção de soluções e no desenvolvimento de alternativas viáveis (através da modernização dos seus sistemas e da adoção de novos modelos de entrega) que permitam investir no futuro e minimizar os custos de operação.

Para o gestor de uma PME com recursos de investimento limitados e um suporte TI de nível médio, que conselhos podem ser úteis no momento de fazer uma análise ao tema e traçar uma estratégia para abraçar o desafio da transformação digital?
Acreditamos no papel estratégico do IT (planeamento/roadmap de IT, definição de arquiteturas, conhecimento do negócio e das suas necessidades).
Neste sentido, é fundamental que o IT conheça a direção estratégica que o negócio quer seguir e que se posicione como um parceiro interno ágil que potencie a execução dessa estratégia.


Publicado em:

Na Primeira Pessoa

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