Fusão Dell/EMC arranca sem sobressaltos em Portugal
Na altura em que se concretiza a fusão Dell/EMC para criar um novo gigante das tecnologias – a Dell Technologies -, as expectativas em Portugal são de que as equipas das duas empresas se mantenham, ou possam até vir a crescer, ainda que a história mostre que esse não é o desfecho mais comum neste tipo de operações.
Os detalhes da integração começam a ser revelados hoje, 7 de setembro, mas é quase certo que até final de janeiro de 2017, mês que encerra o atual ano fiscal da Dell, a estrutura das duas multinacionais – no que se refere não só ao número de pessoas, mas também ao local de trabalho – não vai sofrer alterações significativas, como disse ao Ntech.News Gonçalo Ferreira, diretor-geral da Dell em Portugal.
É o mesmo responsável que admite a possibilidade de crescimento da equipa nos próximos tempos, apontando para o percurso recente da Dell, que nos últimos anos tem aumentado o número de colaboradores em várias áreas. Isabel Reis, que dirige a EMC a nível local, também garante que a informação disponível até agora indicia que o novo grupo «conta com ambas as equipas na sua totalidade» e acrescenta que faz sentido que assim seja, tendo em conta a complementaridade dos negócios que a fusão vai unir.
Garante aliás, que o ambiente na divisão portuguesa da EMC, onde trabalham 45 pessoas, é de otimismo. «É normal que as mudanças provoquem alguma expectativa, mas por outro lado todas as ações corporativas têm vindo a fazer com que a equipa esteja tranquila e, mais do isso, positiva em relação ao que vai acontecer a seguir».
Isabel Reis destaca a oportunidade de crescimento em novas áreas e em novos mercado que a fusão traz ao universo EMC e também vê como positivo o facto de a multinacional passar a estar integrada num grupo privado, que não está cotado em bolsa. A Dell já tinha saído do mercado de capitais há alguns anos. A nova Dell Technologies – designação da companhia que resulta da fusão – vai manter a mesma opção.
«Claro que os resultados vão continuar a ser relevantes, mas [deixar de ser uma empresa cotada] dá-nos uma liberdade de movimentos que não tínhamos» e que pode reequilibrar o binómio resultados vs desenvolvimento, acredita a gestora.
Dell e EMC em Portugal dão as boas-vindas à Dell Technologies a 14 de setembro
Hoje, 7 de setembro de 2016, consuma-se uma fusão que foi confirmada em outubro de 2015 e marca o início de uma nova era para as duas empresas, protagonistas do maior negócio de sempre na história das Tecnologias de Informação: 67 mil milhões de dólares, à data do anúncio.
Em Portugal o dia 1 da nova Dell Technologies está marcado para 14 de setembro, data do evento interno que vai reunir as equipas da Dell e da EMC pela primeira vez depois do anúncio. Muitos já se conhecem e até já colaboraram, graças a uma parceria que durante vários anos uniu as duas empresas, destacam os gestores das duas empresas.
A partir daí começa o trabalho conjunto, que numa primeira fase se vai fazer a partir das estruturas que existem hoje. «Nos próximos meses o que vai haver é um grande entendimento entre as áreas técnicas e comerciais», diz Gonçalo Ferreira. «Queremos que 1+1 venha a ser mais que 2», acrescenta. Para já não revela quem vai ficar à frente da nova subsidiária portuguesa nem a data prevista para a divulgação dessa informação.
As subsidiárias portuguesas da Dell e da EMC partem para a fusão com uma forte presença nos mercados onde oferecem soluções, o que torna incontornável um impacto da operação também a nível local. Gabriel Coimbra, diretor-geral da IDC em Portugal, espera que esse efeito seja sentido sobretudo «no mercado de infraestrutura de TI, mais especificamente no mercado de storage e servidores», onde as duas companhias deixam uma marca mais profunda.
A Dell está entre as 10 maiores empresas de TI a operar em Portugal, com uma faturação anual entre os 40 e os 75 milhões de euros, segundo dados da companhia, que também assegura ter 15% do mercado de servidores em Portugal e ser a terceira do ranking nacional no storage. A equipa local é composta por cerca de uma centena de pessoas e tem mais de dois mil parceiros registados.
A EMC opera na área da proteção da informação, fornecendo sistemas de armazenamento e backup e a inteligência para fazer a gestão desta informação. Em Portugal fatura 27 milhões de dólares (cerca de 24 milhões de euros). Detém uma quota de mercado de 35%, construída sobretudo a partir da venda de soluções a grandes empresas e tem 50 parceiros locais, confirma Isabel Reis.
Parceiros na expectativa, acreditam que a fusão é positiva
Na lista estão nomes como a Cilnet, que gera 40% do seu volume de negócios a partir das soluções EMC. João Martins, administrador, olha para a fusão com expectativa, mas acredita que este «foi um movimento que tinha de acontecer» e que faz sentido, porque é «um portefólio que não tem assim tantas zonas comuns».
Olhando para o futuro, acredita que uma aposta forte do novo grupo em áreas como o big data e a cloud, «como só um gigante do sector terá capacidade para fazer”, pode ser uma grande oportunidade e trazer muita inovação ao mercado. É por isso nestes dois domínios que João Martins está mais curioso em relação à estratégia da nova Dell Technologies. Enquanto parceiro do novo grupo encontra mais pontos positivos do que negativos na mudança de interlocutor, mas não deixa de frisar que o sucesso da nova empresa depende em larga medida da forma como a fusão for feita e sobre isso as dúvidas continuam por esclarecer.
A EMC também está na lista de principais parceiros da Claranet em Portugal. A multinacional norte-americana é o seu principal fornecedor de soluções de armazenamento e backup. Acontece o mesmo com a Dell, que é o principal fornecedor de servidores para as plataformas de alojamento dedicado ou cloud computing da empresa de managed services gerida por António Ferreira.
Dada a forte ligação da Claranet às soluções das duas companhias envolvidas no negócio, o responsável acredita que a fusão só pode trazer boas notícias. «A fusão das empresas Dell e EMC provavelmente reforçará a nossa relação com a Dell, no sentido em que aumenta a importância desta parceria. O diálogo e planeamento da estratégia de atuação conjunta será com certeza mais fácil, com uma gestão unificada», defende.
Gabriel Coimbra, diretor-geral da IDC Portugal, sublinha que «uma consolidação sempre implica uma seleção de parceiros/distribuidores» e por isso antecipa que «alguns poderão ficar fora» do novo ecossistema Dell Technologies. Mesmo assim admite que «os parceiros preferenciais terão uma oferta mais completa e competitiva» depois da fusão.
Os parceiros das duas empresas começam a receber informação sobre a nova companhia a partir da data de oficialização do negócio com a garantia, pelo menos para já, de que a oferta atual de ambos os portefólios é para manter. O Ntech.News contactou outros representantes desta rede para este artigo que por enquanto preferem não comentar a operação.
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