O mercado português está mais dinâmico
A constante aposta em inovação, associada ao investimento na qualificação e valorização das pessoas, posiciona a GMV para endereçar aquilo que são as tendências e desafios do mercado e dos clientes. Em entrevista ao Ntech.news, Pedro Lopes Vieira, responsável de desenvolvimento de negócio Secure eSolutions da GMV Portugal, admite que há uma dinâmica diferente no mercado. De acordo com este responsável alguns investimentos que foram adiados estão finalmente a ser lançados e existe, de facto, maior predisposição para investir em soluções tecnológicas. Adicionalmente, para além do investimento em novas soluções, Pedro Lopes Vieira explica que existe a necessidade de renovar os sistemas atuais de suporte ao negócio, uma vez que também estes investimentos foram afetados pela crise. Contudo, relembra que a crise teve impacto no modo como estes investimentos são realizados e a relação entre clientes e fornecedores mudou substancialmente, sendo que o ciclo comercial é hoje mais longo e muito mais exigente.
Ntech.news – Como é que a GMV está a conseguir corresponder às oportunidades que lhe são apresentadas pelo mercado?
Pedro Lopes Vieira – Desde sempre que a GMV tem pautado a sua atuação pela colocação no mercado de soluções altamente diferenciadoras. Motivam-nos os desafios e a constante inovação que daí resulta. Somos um grupo que reverte cerca de 10% dos seus resultados para atividades de Investigação e Desenvolvimento, promovendo uma participação ativa dos nossos colaboradores nesta dinâmica. Temos sistemas de gestão de I&D certificados, algo que atesta o forte compromisso da GMV com a inovação. O resultado, por exemplo, é termos produtos que são líderes mundiais – como é o Checker para a proteção de redes ATM – e que resultaram deste esforço, numa altura em que a perspetiva de fraude neste tipo de redes era vista como “ficção científica”. Paralelamente, a GMV reconhece que o seu maior ativo são as pessoas. A constante valorização e investimento em conhecimento e qualificação é algo que para a GMV é muito importante. Temos áreas de expertise em vários setores e, de um modo genérico, o mercado, sejam clientes ou parceiros, reconhece a nossa liderança. Ainda recentemente, na área das soluções para o mercado de Cibersegurança, vimos reconhecido esse esforço por parte da Imperva, distinguindo a GMV como o primeiro parceiro Platinum para o Sul da Europa.
Em que áreas a dinâmica de investimento é mais expressiva?
São áreas onde o nível de exigência é enorme e a elevada criticidade associada às soluções desenvolvidas continuam a pedir um esforço no desenvolvimento de soluções com componentes científicas preponderantes e altamente especializadas (daí termos certificações como CMMI nível 5, as de Segurança Nacional e da Nato e a ISO 27001, para além das “já tradicionais” de qualidade). No entanto, temo-nos vindo a posicionar naquilo a que se designa chamar a 3.ª Plataforma, contribuindo com soluções e serviços em diferentes áreas e mercados. Para referir apenas alguns exemplos, temos soluções que envolvem IoT e BigData em Cloud para proteção de infraestruturas críticas, sistemas de controlo epidemiológico sobre plataformas de BigData, sistemas de controlo e deteção de fraude em transações bancárias com soluções de inteligência artificial e machine learning e projetos na área da chamada Indústria 4.0. Este tipo de soluções acaba por ter um impacto fortíssimo na forma como as organizações olham para a sua realidade, para a forma como funcionam e se relacionam com os seus pares e clientes, levando à tão necessária transformação.
«As organizações em Portugal ainda têm um caminho a percorrer e tendemos a confundir Digitalização com Transformação Digital. Não é a mesma coisa, sendo que a diferença, aliás, é muito significativa.»
Quais são neste momento os setores preferenciais de atuação para a GMV em Portugal?
Os setores de atuação em Portugal continuam a ser aqueles em que sempre estivemos presentes, nomeadamente Espaço, Aeronáutica, Segurança e Defesa, Sistemas Inteligentes de Transportes e TIC para Administração Pública e Empresas em geral. Recentemente temos vindo a apostar numa oferta para o setor da Saúde baseada em soluções e produtos próprios, como é o caso da solução de eHealth Antari. O setor espacial continua a ter uma expressão significativa em termos do nosso volume de negócios. É o nosso setor mais tradicional, com uma oferta de muita qualidade e altamente especializada, que permite, por exemplo, ser líderes do sector em Portugal e uma referência europeia e mundial em alguns nichos do mercado.
Quais os maiores projetos que estão a desenvolver neste momento no mercado nacional?
Temos projetos a decorrer em vários setores, quer seja com o desenvolvimento de sistemas à medida, com a implementação de soluções baseadas em produtos próprios ou de terceiros, ou pela prestação de consultoria especializada. Neste momento em Portugal temos projetos em curso na área da saúde, na gestão autárquica e utilities, projetos para o mercado da aeronáutica, da defesa e forças de segurança, projetos de implementação de sistemas inteligentes de transportes e integração de soluções de cibersegurança ao nível da administração central. Contudo, a partir de Portugal desenvolvemos ainda muitos projetos para clientes e organizações internacionais, o que reforça o nosso posicionamento como empresa nacional exportadora de conhecimento.
«Somos uma Yes Company no sentido em que não desistimos perante as dificuldades e encaramos os desafios tecnológicos que nos são colocados como uma oportunidade para inovar».
O mercado português é estratégico para a GMV?
O posicionamento da GMV é global. Desde Portugal, para além do mercado nacional, desenvolvemos soluções e projetos para clientes em todo o mundo. Mantemos centros de excelência em Lisboa, nomeadamente na área de Segurança Marítima e Integrated Modular Avionics, que potenciam a engenharia portuguesa e contribuem decisivamente para a afirmação das tecnológicas Portuguesas a nível mundial. O volume de negócios de exportação para a GMV é muito importante, representando mais de 70%, com destaque para os mercados de espaço, transporte e aeronáutica. A partir de Portugal somos fornecedores dos principais “primes” nestes sectores (Airbus, Boeing, Embraer, Thales, Nissan-Renault) e trabalhamos para algumas das mais relevantes agências europeias e mundiais (como ESA, EDA, EUROCONTROL, IDB, EMSA, EC, FRONTEX, EUMETSAT, SATCEN…)
Quanto representa a vossa área de soluções em matéria de faturação? E a de serviços?
A área de negócios da GMV relacionada com o mercado de TIC para Administração Pública e Empresas em geral representa cerca de 25% da faturação global da GMV em Portugal, mantendo uma percentagem semelhante à faturação global mundial da GMV. Quase toda a faturação da GMV em Portugal são “serviços” sejam eles de desenvolvimento de software ou de implementação de soluções especificas.
Na vossa opinião a transformação digital continua em 2018?
A revolução digital não é de agora. É em si um processo que se iniciou há já algum tempo e que definiu as bases para o atual processo de transformação, que as empresas estão a implementar. Agora começa a existir a assunção de que a tecnologia nos permite definir novas fronteiras ao nível do conhecimento. Não se trata apenas de ter processos mais rápidos ou formas mais ágeis de aceder à informação, mas sim da capacidade que temos de gerar conhecimento a partir da informação que nos chega de todos os lados e a todo o instante, de realimentar este sistema com esse conhecimento, gerir a disrupção que isto introduz no negócio e envolver as pessoas ao longo do percurso. As organizações em Portugal ainda têm um caminho a percorrer e tendemos a confundir Digitalização com Transformação Digital. Não é a mesma coisa, sendo que a diferença, aliás, é muito significativa. Contudo, o processo de mudança que nos permitirá distinguir claramente entre estes dois conceitos está em marcha e acredito que, num espaço de 1 a 2 anos, serão significativamente mais as organizações que encetarão processos efetivos de transformação digital. É claramente uma questão de paradigma e não de infraestruturas. Há que saber mudar e aprender a gerir essa mudança.
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