Poderá a Europa ser um segundo Silicon Valley?
A Europa quer ganhar tração no empreendedorismo, mas as comparações com Silicon Valley não fazem muito sentido. E não é só porque os polos de empreendedorismo na região chegam a vários países. Há mais razões.
No dia de arranque da Web Summit juntaram-se à mesma mesa Gilian Tans da Booking.com, José Neves, fundador da Farfetch, Nicolas Brusson da BlaBlaCar e Carlos Moedas, comissário europeu da inovação para falar da Europa, enquanto polo de empreendedorismo e do potencial da região para se afirmar como a segunda região do globo mais dinâmica no que se refere às startups.
As comparações com Silicon Valley são inevitáveis e surgiram logo no início da conversa, mas os participantes concordaram que fazem pouco sentido, por várias razões. Nicolas Brusson, CEO da BlaBlaCar, sublinhou que Silicon Valley é um fenómeno localizado e na Europa os polos de empreendedorismo que têm florescido estão dispersos por vários países.
Menos positivo, mas igualmente diferenciador, será o suporte que os investidores privados podem e querem dar a novos projetos. Carlos Moedas admitiu que os fundos na Europa tipicamente investem menos que nos Estados Unidos e estão muito focados na realidade do seu país. Falta uma visão mais europeísta a quem investe e isso contribui, e não pelas melhores razões, para o grande desafio que se coloca ao velho continente, no que se refere à capacidade de dinamizar e economia das startups.
«O maior desafio que temos na Europa é dar escala às nossas empresas», admitiu Carlos Moedas. É um problema que não tem só uma origem, mas que também passa pela capacidade de financiamento e foi para ajudar a resolvê-lo que a CE anunciou esta terça-feira um fundo que chegará ao mercado em coinvestimento com capitais de risco privadas, com a intenção de disponibilizar 1,6 mil milhões de euros para apoiar o empreendedorismo. A CE entra com cerca de 400 milhões.
Do lado das empresas concordou-se que existem outros aspetos com impacto relevante na inovação, como a regulação complexa e que ainda encontra muitas diferenças entre países, uma crítica que Carlos Moedas acolheu, concordando que faz falta à Europa ganhar agilidade nestes processos e capacidade para definir regras eficientes (smart regulation). «Hoje temos um gap sério entre os tempos da legislação e da inovação», admitiu. O comissário português reconhece que processos legislativos que chegam a demorar cinco anos estão completamente desalinhados com as dinâmicas de mercado atuais e acabam por entrar em vigor já desatualizados.
Ainda assim, e embora a CEO da Booking.com tenha sublinhado a necessidade de a CE fazer mais para criar um verdadeiro mercado único europeu, Farfetch e BlaBlaCar garantiram que não trocavam a Europa pelos Estados Unidos para lançar os seus projetos. No caso da plataforma online de moda portuguesa, porque as grandes marcas do sector estão na região, no caso da BlaBlaCar, o CEO da empresa garantiu que a regulação local nunca foi um entrave ao desenvolvimento da companhia francesa.
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