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Sistemas de Informação à la Carte

João Moura, Business Analytics Specialist Consultant da Mind Source 

Publicado em 15 Fevereiro 2021 | 913 Visualizações

A Cloud trouxe-nos uma nova abordagem e forma de trabalhar. Permitiu, sobretudo, alavancar o desenvolvimento tecnológico de muitas empresas, muitas vezes condicionadas pela necessidade de criar um ambiente de sistemas de informação oneroso, a nível de equipamentos e licenciamentos, impedindo pôr em prática muitas das suas ideias. Mas quais são as condições iniciais para uma empresa decidir contratar um ambiente Cloud?

Tenho um amigo que não tem carro. Vive no centro de Lisboa e, ou anda de transportes públicos ou, quando não é possível ir de transportes públicos, utiliza uma plataforma digital para ‘chamar’ um carro. Se for sozinho ou com outra pessoa, pede um veículo de 4 pessoas, e se forem até 6 pessoas, pede um carro XL.

“- Ter carro sai caro!” Entre combustíveis, manutenções, inspeções e parquímetros na cidade, ter um carro é dispendioso, e por isso uma opção descartada. Prefere por enquanto poupar e, mais tarde, caso se justifique, considerar essa opção.

Outro amigo, com dois filhos adolescentes, decidiu vender os seus carros a combustão e comprar carros elétricos, defendendo que são mais baratos em termos de consumo e manutenções. Quando lhe questionei sobre a praticidade para viagens longas, rapidamente me respondeu que caso fosse necessário alugaria um carro de combustão, com autonomia e com as dimensões necessárias para o efeito.

Quero com isto criar uma ideia de discussão sobre os cenários mais interessantes para uma empresa pensar em criar ambientes de Cloud para os seus sistemas de informação. Até que ponto vale a pena ter um sistema on-premises e/ou optar pela Cloud?  

Não quero abordar a questão dos possíveis Data Breaches uma vez que considero que as empresas se deviam focar mais em criar os perfis internos de segurança, onde os colaboradores das empresas são devidamente escrutinados em termos de data privacy, e não imputar toda a responsabilidade aos providers do serviço da Cloud. Mas claro…há providers e providers.

A lógica de uma comodidade tão presente no nosso dia-a-dia, como o uso de viatura própria para garantir a nossa mobilidade e conforto, pode ser facilmente transportada para a lógica da Cloud.

O NIST (National Institute of Standards and Technology) definiu cinco características da Cloud, duas das quais se destacam por uma questão de proximidade: On-Demand Self-Service e Rapid Elasticity. Isto significa que o cliente tem a possibilidade de ajustar rapidamente o seu pedido à sua necessidade e sem um custo de pertença associado.

«é importante não ficar demasiado dependente do provider»

No entanto, também aqui não existem verdades absolutas. Ir para a Cloud não significa abdicar de ter um sistema de informação on-premises. Contudo, é preciso avaliar que parte é que se pretende colocar na Cloud, até porque é importante não ficar demasiado dependente do provider. Se se verificar a necessidade de retirar os dados da Cloud para on-premises, ou de mudar de provider, é importante garantir o controlo da situação, podendo recuperar dados e aplicações. É sempre importante que os dados dos utilizadores da empresa e as suas respetivas autenticações estejam on-premises.

Adicionalmente, ir para a Cloud não significa estar concentrado num único provider, nem num único modelo deployment (SaaS, PaaS ou IaaS). É possível ter uma parte numa Cloud Privada, e outra numa Cloud Pública, ou até dividido em Clouds Públicas diferentes.

Além disso, certos tipos de soluções são complexas de implementar, como um sistema de Big Data, Machine Learning ou Blockchain. Adquirir máquinas, instalar e configurar a framework, estar preparado para redimensionar horizontalmente, etc, é algo que consome muitos recursos como colaboradores e horas de trabalho para configurarem e afinarem todo o sistema. Atualmente, qualquer grande provider como a AWS, Azure ou Google dispõe de soluções prontas para isso.

Resumindo, a decisão de ir para a Cloud deve ser equilibrada e ponderada. É inquestionável que há métricas que têm de ser avaliadas, a curto, médio e longo prazo, tais como:

«As start-ups, que têm um investimento inicial pequeno, são um exemplo clássico em que a Cloud é a solução ideal»

A grande vantagem da Cloud é ser extremamente dinâmica, permitindo fazer o upgrade, downgrade ou o shift para outra ou então o drawback total.

Numa visão a longo prazo, é uma ótima ferramenta de gestão e de escala dos sistemas de informação, que podem ser redimensionados de forma quase imediata sem longos processos de adjudicação de custos com previsões a vários anos, eliminando o risco de as empresas ficarem agarradas durante anos à solução que tinham desenhado, podendo nunca atingir o devido ROI, e podendo canalizar esse investimento para áreas core do negócio da empresa. Ao nível tático, permitem ajustar, continuamente, a dimensão dos sistemas à necessidade instantânea, garantindo que a empresa avance tecnologicamente à velocidade que o negócio exige.

As start-ups, que têm um investimento inicial pequeno, são um exemplo clássico em que a Cloud é a solução ideal, podendo ir crescendo à medida do sucesso do negócio.

No entanto, apesar do dinamismo e do aparente reduzido TCO inicial em que as soluções Cloud podem parecer uma vantagem competitiva, é preciso fazer uma monitorização contínua para garantir essa vantagem. Tal como no caso do aluguer automóvel, as empresas têm de ter a sensibilidade para perceber quando é que o aluguer começa a tornar-se menos rentável que a compra de uma viatura nova. Além disso, as empresas com grandes sistemas legados podem ter dificuldade em fazer esta movimentação, quer em termos técnicos, quer em termos financeiros.


Publicado em:

Opinião

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