Eventos cancelados e viagens desaconselhadas. Coronavírus já faz baixas nas empresas em Portugal

Um pouco em todas as áreas o novo coronavírus está a alterar rotinas e no sector tecnológico não é exceção. Em Portugal, começam a ser adiados vários eventos para minimizar riscos de disseminação do vírus e as empresas alinham planos de contingência para responder a um possível agravamento da situação atual.
A PHC anunciou esta terça-feira, 10 de março, que vai converter o seu evento anual numa iniciativa digital. O Open Minds estava previsto para o próximo dia 26 de março, em Santa Maria da Feira, vai agora converter-se num «formato inovador e com uma experiência distinta para os participantes», como descreve a software house portuguesa, «assemelhando-se a um programa de televisão que apresentará as principais novidades para parceiros PHC e as tendências para este ano», complementa a empresa.
O evento anual da PHC deveria acolher mais de mil pessoas, uma das razões que levou a empresa a reconsiderar a realização, em linha com as recomendações do Governo para as ações desta dimensão em espaços fechados, que passaram a estar desaconselhadas. Mas a empresa garante que a medida é apenas uma entre várias, definidas pela organização para «reduzir riscos de contágio e salvaguardar a segurança de todos os envolvidos».
PHC, Oracle e SAP com eventos cancelados
A PHC assegura que tem implementado um plano interno de contingência para diversos cenários, tanto em Portugal como noutros países onde tem escritório, que vai desde medidas de contenção nos escritórios até à obrigatoriedade de trabalho remoto. Esta última hipótese no entanto, para já, não passa disso mesmo, frisa ainda a empresa, que também já cancelou a edição deste ano do seu programa de responsabilidade social, Jr/Code, previsto para a última semana de março e primeira de abril, na cidade do Porto.
Mas há já vários outros eventos cancelados. A Oracle tinha previsto para 25 de março o Autonomous Data Management Forum, um evento que trazia a Portugal dois oradores internacionais, um da própria Oracle e outro da Accenture, mas decidiu cancelar.
No site da SAP Portugal também é possível confirmar que a empresa cancelou todos os eventos presenciais agendados para o mês de março. Ao Ntech.news, fonte oficial da fabricante, explicou que a decisão estendeu-se não apenas aos eventos organizados pela SAP, mas também à grande maioria dos eventos organizados por terceiros, onde representantes da empresa marcariam presença. A medida pode vir a prolongar-se para abril, se a situação assim exigir.
Empresas desaconselham viagens não essenciais
A mesma fonte acrescentou que a multinacional alemã tem uma task force mundial a trabalhar no assunto e a definir medidas, que são depois localmente adaptadas a cada país. Em Portugal, foi para já solicitado aos colaboradores que cancelassem todas as viagens e reuniões presenciais não críticas para o negócio, e que passassem a fazê-las por meios digitais.
A Primavera BSS, que integra 300 colaboradores dispersos por várias geografias, a maior parte dos quais estão em Portugal, também colocou já em prática várias medidas de contingência. A software house portuguesa, com sede em Braga, tem dois terços dos colaboradores locais a trabalhar em regime de home office, num modelo de trabalho rotativo.
As viagens internacionais foram canceladas e as reuniões presenciais com clientes e parceiros passaram a decorrer remotamente, adianta fonte oficial da empresa.
Primavera BSS autoriza pais com filhos sem aulas a trabalharem a partir de casa
«Também a Primavera Academy, que anualmente forma milhares de pessoas, cancelou todas as ações de formação em sala em Lisboa e em Braga». Estas ações serão reagendadas ou vão decorrer online, acrescenta a mesma fonte. A empresa suspendeu ainda temporariamente o projeto Primavera Education, um programa de literacia digital que procura aproximar os estudantes dos ensinos secundário e superior do mundo do trabalho.
O plano de contingência da Primavera prevê igualmente que todos os colaboradores com doenças crónicas, ou pais que precisem de ficar em casa para dar assistência a filhos sem aulas, possam ficar em regime de trabalho à distância, até que a crise de saúde pública esteja completamente resolvida.
«Apesar de tudo, estamos preparados para conseguir manter a atividade e apoiar os nossos clientes e parceiros com a tranquilidade necessária, tendo sempre como prioridade absoluta a segurança e bem-estar da nossa comunidade de colaboradores e suas famílias, fornecedores, clientes, parceiros e comunidade envolvente», defende José Dionísio, cofundador e co-CEO do grupo tecnológico.
«Acreditamos que se todos tomarem medidas de contingência idênticas, conseguiremos estancar a propagação do novo Coronavírus e contribuir para minimizar os danos na economia do país», acrescenta o responsável.
OutSystems converte programas presenciais em virtuais
Na OutSystems, a linha de ação não é muito diferente. «A OutSystems adotou uma abordagem pró-ativa para o surto de Coronavírus», admite Alexandre Monteiro, vice-president of People da tecnológica portuguesa, referindo várias medidas que procuram limitar a exposição e minimizar os riscos para colaboradores e clientes.
«Felizmente, devido à natureza global dos nossos negócios de tecnologia de software, estamos habituados ao trabalho remoto em todo o mundo e usamos uma ampla variedade de ferramentas de conferência e colaboração virtuais para trabalhar», destaca o responsável.
A OutSystems está assim a incentivar o trabalho em casa, a partir das ferramentas que a empresa já disponibilizava para isso e limitou as viagens aos negócios essenciais. Na sexta-feira à tarde, dia 13 de março, acabou mesmo por anunciar que a partir de segunda-feira 100% da sua força de trabalho, a nível global, cerca de 1.100 colaboradores, vai entrar em modo teletrabalho.
A maioria dos eventos de formação presencial da empresa estão a ser transformados em programas virtuais e estão a ser tomadas «medidas para limpar e higienizar os nossos escritórios e a incentivar os nossos funcionários a seguir as medidas de higiene e precaução recomendadas pelos Centros de Controle de Doenças e pela Organização Mundial de Saúde», acrescenta Alexandre Monteiro.
Cancelamento do MWC em Barcelona gera prejuízos de 500 milhões de euros
Outras alterações já confirmadas, na sequência da pandemia, são a do evento DnA Series – Analytics & the empowerment of business users da Xpand IT, o primeiro do género que a empresa organiza em Portugal e que, mantém a data de 18 de março, mas assume o formato de webinar. Também a primeira feira nacional dedicada à impressão 3D teve de ser reequacionada. O evento – 3D Additive Expo – arrancava no próximo dia 19 de março na Batalha, vai afinal realizar-se entre 24 e 26 de setembro.
A nível nacional vários outros eventos em sectores distintos foram já cancelados ou reagendados, a nível internacional o exemplo mais mediático no domínio das TI será o do Mobile World Congress, em Barcelona, que desde 2006 todos os anos animou o sector a nível internacional. A imprensa espanhola avançou com previsões de perdas na ordem dos 500 milhões de euros para a cidade.
A nível global, vários analistas começaram já a rever previsões para este ano, como a IDC, que desceu de 6,8 para 9% a previsível queda de vendas no mercado de PCs este ano, estimando agora vendas totais de 374,2 milhões de unidades, contra as 380,2 milhões previstos antes.
Ainda assim, nem tudo são cancelamentos. A IDC mantém marcada para esta quinta-feira a IDC Multicloud Conference. O Women Tech Lisbon 2020, também continua previsto para 17 de março e há mais alguns exemplos.
Nota de redação: A notícia foi atualizada com informação sobre o plano de contingência da Primavera BSS e com informações da OutSystems, que não tinha conseguido responder às questões do Ntech.news até à data de publicação original da notícia. A PHC informou entretanto que a partir de dia 16 de março, 90% dos colaboradores passam a estar em trabalho remoto.
Publicado em:
AtualidadePartilhe nas Redes Sociais