Inovação tecnológica europeia bem posicionada para continuar a crescer
Nos últimos dez anos, a Europa testemunhou um crescimento impressionante no setor tecnológico. Um relatório divulgado pela Atomico, empresa de capital de risco, destaca os progressos do continente, mas também sublinha os obstáculos que ainda precisam de ser ultrapassados para que o ecossistema europeu atinja todo o seu potencial.
Portugal não ficou de fora desta transformação: desde 2015, as tecnológicas nacionais angariaram mais de 1,4 mil milhões de euros, refletindo a consolidação do país como um destino atrativo para inovação e empreendedorismo. E, o ecossistema europeu de startups conseguiu captar cerca de 400 mil milhões de euros em investimentos, dez vezes mais do que na década anterior.
Este progresso deve-se, em grande parte, a cidades como Londres, Paris e Berlim, que se destacam entre os maiores centros globais de financiamento para startups.
Hoje, a Europa acolhe mais de 35 mil startups tecnológicas – o maior número a nível mundial – e conta com 3,5 milhões de trabalhadores no setor, um aumento de 24% na última década. Em Portugal, o número de profissionais na tecnologia subiu de 5.200 para 20.700 entre 2015 e 2024.
«O talento está a ser atraído pela tecnologia», refere o relatório. Desde 2015, sete vezes mais pessoas começaram a trabalhar em empresas tecnológicas financiadas na Europa.
Os desafios do crescimento
Apesar do sucesso, o relatório aponta vários desafios. O financiamento em fases de crescimento é um dos maiores entraves. As startups europeias têm metade da probabilidade das americanas de captar rondas superiores a 14 milhões de euros, o que limita o potencial de expansão.
Outro problema é a dependência de investidores estrangeiros. Uma em cada duas empresas europeias de grande dimensão recorreu a capital americano, o que pode levar a uma fuga de talentos e recursos. Para Sarah Guemouri, diretora da Atomico e coautora do relatório, «o próximo passo para a Europa é desenvolver o ecossistema em fase de crescimento».
O documento também destaca a subrepresentação feminina no setor. Apesar de algum progresso nas fases iniciais, as equipas exclusivamente femininas captam apenas 1,7% do financiamento em estágios avançados.
O futuro: inovação e sustentabilidade
O relatório prevê que, até 2034, a tecnologia europeia poderá valer 7 mil milhões de euros e empregar cerca de 20 milhões de pessoas. As áreas de sustentabilidade e deeptech (como inteligência artificial) estão a liderar este crescimento.
Nos últimos dez anos, 21% dos investimentos tecnológicos europeus foram direcionados para projetos ligados à sustentabilidade, o dobro dos Estados Unidos. A gestão de carbono é uma das áreas que mais tem captado atenção.
Portugal acompanha esta tendência. Este ano, as startups nacionais estão posicionadas para angariar 92 milhões de euros, um valor equiparável ao da Grécia, mas inferior aos 1,3 mil milhões de euros alcançados pelas empresas espanholas.
Tom Wehmeier, diretor de Insights da Atomico, acredita que o pessimismo pode ser um dos maiores inimigos do progresso europeu. «Quando se tem uma visão a longo prazo, é evidente que o continente fez enormes progressos na última década», constata o responsável. O relatório apela a uma renovação da confiança no ecossistema europeu. Entre os próximos passos, destaca-se a necessidade de mais fundos públicos e institucionais para financiar a fase de crescimento e a reabertura do mercado de IPOs, que pode trazer uma renovada confiança ao setor.
Com as bases sólidas que foram construídas, a tecnologia europeia está bem posicionada para continuar a crescer, mas o relatório conclui que só o tempo dirá se os desafios poderão ser superados a tempo de capitalizar todo o seu potencial.
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