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Empresas não podem transformar processos que não conhecem

Publicado em 5 Março 2018 por Ntech.news - Luísa Dâmaso | 3410 Visualizações

Com mais de 4 décadas de existência e uma solução a celebrar 25 anos, a Software AG tem sabido reinventar-se para apoiar as empresas na transformação digital que lhes é pedida pelos mercados. Sem perder o foco nos processos dos clientes, a multinacional alemã integrou o universo Findmore Consulting há dois anos e Manuel Chaves, managing director da Software AG em Portugal,  faz uma balanço muito positivo desse “casamento”, que segundo ele tem proporcionados «bons resultados» não só ao nível da consolidação da base instalada, como também na evolução rentável do negócio internacional e no posicionamento dinâmico com que se propõem a conquistar boas e novas referências de negócio, aqui e além fronteira.

O responsável não esconde que a indústria poderá ser um mercado a explorar com maior firmeza durante 2018, juntamente com os da banca, das utilities ou das telcos nos quais já estão bem presentes. O responsável garante que as soluções da Software AG estão preparadas para endereçar as necessidades de transformação de todas as empresas, independentemente da sua dimensão ou setor de atividade.

As oportunidades, diz Manuel Chaves, são muitas, até porque «não se pode transformar o que não se conhece». Segundo este responsável, no nosso país existe realmente um problema que não é eficiência, como muitos querem fazer notar, mas sim de desconhecimento. «Tenho dúvidas de que se conheçam realmente e a fundo os processos internos que fazem mexer cada uma das nossas empresas», assume o managing director.

 

Ntech.news – Qual o balanço que fazem destes dois anos de integração na Findmore?

Manuel Chaves – Acabou por ser um casamento feliz para todas as partes. Foi uma fusão simples. Selecionámos a Findmore quando a Software AG tomou a decisão de encerrar o escritório e as vendas diretas em Portugal. A equipa que pertencia à Software AG teve a possibilidade de ficar como único representante e interface em Portugal. Estes dois anos confirmam que tomámos a decisão certa. A integração foi simples, funcionamos como uma business unit independente dentro da Findmore.

Manter o nome foi uma decisão estratégica?

Sim. Para a Findmore foi interessante, porque havia uma grande inclinação para o outsourcing, ou sourcing de recursos a terceiros, a inclusão desta unidade negocio, permite ter uma exposição completamente diferente no mercado, diferenciadora. Passa-se a poder entregar projetos end-to-end e não apenas fazer staffing de projetos de terceiros. Ao nível do brand recognition é também interessante. Para a Software AG foi bom, porque desde que fomos incorporados na Findmore temos tido um crescimento interessante.

Como é que foi a reação do mercado a esta fusão?

Para nós, a fusão abriu uma perspetiva diferente que foi a internacional. A nível nacional quando houve a fusão, o mercado reabriu. Mas não houve qualquer incerteza, até porque os negócios são muito feitos na base relacional e da confiança.

 

Angola e Golfo no mapa de negócio

 

Que perspetivas desenvolveram a nível internacional?

Angola foi uma aposta interessante e além de alguma hesitação no último ano, foi o mercado que nos abriu as portas a nível internacional. No último ano, na sequência de algum abrandamento em Angola expandimos para Golfo – Dubai, Kuwait e Abu Dhabi, e isso ajudou-nos a sustentar o crescimento que tivemos no último ano, que rondou os 80%.

Qual é neste momento a divisão do negócio?

Eu diria que é 80% internacional e 20% nacional.

Estas duas geografias, Angola e o Golfo, são o vosso pilar internacional ou planeiam caminhar para novos destinos?

De momento não. O que nos fez ir para o Golfo foi o facto de o negócio ter estagnado em Angola. Quando estamos a crescer numa região não vale a pena começar a disparar em todas as direções. Eu sou a favor da especialização, fazer poucas coisas e bem, do que fazer muitas mais ou menos. É essa a nossa politica e é isso que nos tem feito crescer. Temos convites para ir para outras regiões, nomeadamente para o Brasil.

Como desenvolvem o negócio além-fronteira?

No Golfo temos escritório local, ou seja, abrimos uma delegação e temos entidade jurídica – a Findmore Middle East. Temos que ter uma representação local, caso contrário não conseguimos fazer negócio lá. Temos o negócio direto e  indireto, e na minha opinião, é mais fácil trabalhar com parceiros locais. Em Angola não. Fazemos projetos no formato fly-in fly-out.

Os projetos pedidos nestas geografias são diferentes, ou semelhantes ao que o mercado nacional pede?

Eu diria que são semelhantes. São diferentes essencialmente ao nível da dimensão. É difícil encontrar projetos pequenos, o que nos surge são projetos grandes. Dai o peso da componente internacional na nossa faturação.

Quanto faturaram nesta região?

Faturamos na ordem dos dois milhões de euros no Golfo e em Angola um milhão.

No mercado nacional ainda há espaço para crescer?

Diria que sim. Não tanto como nestes mercados mais dinâmicos, mas há oportunidades. A oferta da Software AG anda muito à volta de uma coisa que esta na moda, que é a transformação digital. Somos especializados em processos e na excelência da gestão e da execução desses processos. No nosso entender isto é que é a transformação digital. Não é o que erradamente algumas pessoas pensam, que é o ter mail na cloud, ou ter um website muito bonito.

Resistência à mudança é incompatível com a transformação digital

 

Então o que é a transformação digital?

Para a Software AG, a transformação digital é o maior projeto de integração da humanidade. Consiste em dar agilidade às empresas, que hoje em dia são um somatório de processos. Quem tiver os processos mais bem afinados e for mais rápido e ágil a alterar esses processos consoante as necessidades que vão chegando do mercado, melhor preparado está para enfrentar a concorrência, quase canibal, que existe. E é nesse segmento que a Software AG se posiciona e é nesse segmento que tenta trazer valor aos clientes.

O que é que se está a fazer de errado na transformação digital?

Como todos os hypes que surgem, cada um tem uma visão diferente do que é a transformação digital. Mas se não altera nada, nomeadamente a forma como fazem o negócio, a forma como chegam aos seus clientes ou a forma como se posicionam em relação aos concorrentes, não se pode falar em transformação digital. Transformação digital não é mais do que alterar a forma como abordamos o mercado para sermos mais ágeis do que todas as outras empresas que fazem o mesmo que nós. É preciso fazer diferente.

Esta reinvenção da forma de fazer o negócio pode assustar os gestores mais resistentes?

Espero que cada vez assuste menos, porque quem ficar assustado com a possibilidade de se reinventar está claramente a prazo no lugar em que está. O mercado hoje em dia não é mais do que isso, reinvenção continua. Temos que ser melhores do que a empresa do lado. Se tivermos medo de nos reinventarmos, claramente não estamos a fazer um bom trabalho e é isso que tentamos passar aos nossos clientes e aos prospects. Estimular a reinvenção e não a estagnação. Se eu tiver um pacote de software standard vou gerir o meu negócio de forma igual a todos os outros que tiverem o mesmo pacote de software e, nos tempos que correm e no mundo digital, isto não é suficiente, porque ‘What got you here won’t get you there’. Basicamente o que nos trouxe até aqui pode não ser o melhor para nos levar para a frente. É preciso mais e o mais é feito através de rapidez de adaptação às mudanças do mercado. Se o meu concorrente lançar uma coisa nova hoje, eu não posso ir alterar o meu pacote de software para responder daqui a dois ou três meses. Tenho de responder amanhã. Só não respondo hoje porque já passou do almoço, se não teria de responder hoje ainda. O mercado hoje é assim e é nisso que a Software AG está concentrada.

«Estar a gastar em projetos que não são eficientes ou ágeis é quase criminoso em termos empresariais.»

 

O facto desta adaptação poder não estar a ser feita a bom ritmo pode atrasar as empresas portuguesas na transformação?

Acredito que existe o risco desta resistência a mudança ou resistência à reinvenção atrasar algumas empresas no mercado nacional. Empresas que apareçam agora com um dinamismo diferente, uma forma diferente de ver o mercado e comode alavancar o negócio com as TI, poderão ganhar vantagens competitivas a quem mantenha resistência. Funcionou muito bem a fase dos ERP e CRM gigantes, mas estas abordagens já não são suficientes.

O que é necessário agora?

É necessário aproveitar todo o trabalho que foi feito ao longo dos anos, com ERP, CRM e aplicações desenvolvidas à medida, porque há investimentos muito grandes envolvidos, mas criar em cima dessa camada uma outra, que pode ser chamada de integração ou de middleware, que seja mais dinâmica, mais adaptativa à realidade do mercado. Um processo, dentro de uma empresa, que seja executado de uma forma não ágil é um custo e numa altura de crise e de competição feroz só há duas formas de fazer dinheiro, ou se vende mais ou se gasta menos. Estar a gastar em projetos que não são eficientes ou ágeis é quase criminoso em termos empresariais.

 

Solução Aris e equipa sénior compões fórmula da mudança

 

De que forma a Software AG pode ajudar as empresas a construírem esta camada mais ágil e dinâmica?

Esta camada acaba por ser muito fácil de impor ou posicionar no mercado de TI, porque somos lideres nesta área há muitos anos. Esta camada já foi chamada de muitas coisas, de integração, de middleware, de digital transformation, e é uma layer na qual estamos confortáveis há mais de uma década. Só fazemo isto. Não vendemos soluções para ‘N’ coisas.  Somos especialistas nesta área de processos, em conhece-los, muda-los e agiliza-los. Fazemos continous improvment há uma década e investimos de uma forma consciente em desenvolvimentos e em novas aquisições, sempre tendo em conta que uma empresa é um somatório de processos e que eles têm de ser afinados, através de melhorias nos bottleneck identificados. O mercado acabou por nos direcionar para uma área em que estamos confortáveis.

Como olham para a concorrência?

Há umas soluções que podem ser muito interessantes, no campo de desenho de processos.  Estamos posicionados na gestão. Noto que muitas vezes concorremos com soluções de desenho de processos. Por vezes temos alguma dificuldade em conseguir explicar a diferença entre desenhar e gerir um processo.

Medem a dimensão dos projetos pelo número de processos?

Não. A forma de licenciamento da Software AG tem a ver com o numero de modeladores de processo e de visualizadores de processos.  A solução Aris tem mais de 25 anos de história e de projetos. O número de pessoas que utiliza a solução é o indicador chave. Se tiver uma solução de processos que seja apenas utilizada a nível departamental, esta não produzirá um retorno significativo para a organização. O valor de uma solução como a nossa vem da partilha de conhecimento dentro da empresa e da contribuição desta para a agilidade do negócio da empresa.

Como planeiam crescer?

Este ano estaremos focados nesta área da gestão de processos. Vamos tentar mudar o paradigma e mostrar que para se melhorarem os processos há que os conhecer primeiro. Vamos dar o passo atrás e voltar a por o foco na gestão dos processos, conhecimento, medição e com base nisso ter uma estratégia para a alteração. Se não conheço os meus processos, como os vou melhorar? Achamos que as empresas portuguesas têm alguns problemas porque passaram logo para a parte de implementação de processos sem conhecer as reais necessidades dentro da organização e é aí que nos vamos posicionar de forma transversal, ou seja olhando para todos os setores do mercado. A indústria será alvo de atenção especial, mas a banca, as telcos e as utilities continuarão a gerar oportunidades.

E a equipa?

Quando integramos a Findmore eramos cinco, agora devemos ser 30. crescemos consideravelmente a nossa equipa. Apostamos em recursos nacionais seniores e dinamizamos também uma filosofia de formação de novos recursos.


Publicado em:

Na Primeira Pessoa

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