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Escassez de água ameaça futuro dos data centers e Portugal já aposta em soluções sustentáveis

Publicado em 20 Agosto 2025 por Ntech.News | 130 Visualizações

O aumento dos incêndios florestais, das secas prolongadas e das ondas de calor extremas está a colocar um novo risco estratégico no centro do debate sobre a infraestrutura digital: a escassez de água. Se até agora a energia era vista como o principal desafio, os dados mais recentes mostram que a água se tornou igualmente crítica para o futuro dos data centers.

Robert Pritchard, Principal Analyst de Enterprise Technology & Services na GlobalData, não tem dúvidas de que as alterações climáticas têm gerado fenómenos meteorológicos cada vez mais extremos em todo o mundo. Mas, as alterações climáticas significam também que a necessidade de água para arrefecer a base de data centers em constante expansão será, provavelmente, um dos grandes problemas que irá atrair atenções.

Nos últimos anos, países como Singapura e a Irlanda chegaram a suspender novos projetos de centros de dados para proteger a rede elétrica e dar prioridade ao abastecimento às populações. Agora, a água surge como o fator limitativo. De acordo com a OCDE, até 2027 a inteligência artificial poderá consumir entre 4,2 e 6,6 mil milhões de metros cúbicos de água por ano, um valor superior ao consumo anual da Dinamarca e próximo de metade do do Reino Unido.

«Os fornecedores de data centers estão a recorrer à inovação tecnológica para tentar responder às exigências energéticas do seu crescimento, sobretudo face à explosão da inteligência artificial (IA)», constata Robert Pritchard.
O problema, contudo, é que quaisquer soluções terão de ser enquadradas no contexto das alterações climáticas e do impacto imediato que estas estão a ter na vida dos cidadãos, ou seja, trata-se de uma questão política e social, não apenas tecnológica.”
«Não existe um equivalente hídrico dos créditos de carbono para disfarçar a realidade, mais importante ainda, enquanto a energia pode contar com geradores de reserva em caso de falha da rede, não existe equivalente para a água. Acresce a potencial ameaça de ataques terroristas à infraestrutura crítica da água, que parece ser uma questão ainda mais relevante», alerta o responsável.

Um setor com valor para a economia portuguesa

Um novo estudo da Copenhagen Economics, encomendado pela Start Campus, revela que este sector poderá mesmo contribuir com até 26,2 mil milhões de euros para o PIB nacional entre 2025 e 2030, suportando mais de 48 mil empregos anuais.

Os centros de dados são muito mais do que armazéns tecnológicos: são a infraestrutura invisível que mantém a internet e os serviços digitais a funcionar sem interrupções. De serviços bancários a sistemas de saúde, passando pelo streaming, comércio eletrónico ou inteligência artificial, tudo depende da sua capacidade de processamento e conectividade. Segundo o estudo, a IA está a transformar o sector. Só a procura de capacidade de computação para suportar algoritmos de inteligência artificial deverá crescer 33% ao ano até 2030, representando 70% da capacidade total de centros de dados a nível global.

País tem trunfos estratégicos

O estudo constata que o país apresenta condições únicas para atrair investimento nesta área. A sua localização geográfica privilegiada e a robusta infraestrutura de conectividade colocam-no como ponto central dos cabos submarinos, cerca de 25% da rede global cruza Portugal. A cobertura de fibra ótica atinge 92% das habitações, a terceira mais elevada da União Europeia.

Além disso, Portugal beneficia de preços de eletricidade 30% abaixo da média da UE, acesso abundante a energias renováveis (87,5% da produção líquida) e recursos naturais como a água do mar, fundamentais para sistemas de arrefecimento mais eficientes.

A tudo isto somam-se profissionais qualificados, reconhecidos internacionalmente pela sua competência técnica, um ativo-chave para a instalação de grandes operadores.

Impacto económico e social

Entre 2022 e 2024, o sector dos centros de dados já contribuiu com 311 milhões de euros para o PIB e suportou 1.700 empregos por ano. Mas o potencial é muito maior: em condições favoráveis de investimento, o contributo poderá escalar para os tais 26,2 mil milhões até 2030.

O estudo sublinha ainda impactos adicionais não quantificados, como o impulso ao ecossistema de start-ups, o reforço da competitividade empresarial, a atração de investimento estrangeiro e a criação de clusters de inovação tecnológica em torno da infraestrutura digital.

A nível social, os centros de dados podem ser uma alavanca para reduzir assimetrias regionais, atraindo investimento e empresas para territórios menos povoados, ajudando a fixar população e a mitigar fenómenos de desertificação. Também se prevê que fomentem novas oportunidades educativas e de formação.

Apesar do potencial, o estudo alerta que a materialização destes benefícios dependerá das escolhas políticas e da capacidade de atrair investimento. Entre as recomendações destacam-se: simplificação de processos de licenciamento, garantia de acesso a energia e tecnologias avançadas, criação de medidas específicas de incentivo ao investimento e estímulo à digitalização de empresas e administração pública.

Portugal já está a trabalhar para robustecer posição

No contexto português há trabalho que já está a ser feito, nomeadamente na Zona Industrial e Logística de Sines, onde está a ser desenvolvido um dos maiores campus de data centers da Europa (na foto). o SINES DC está a ser desenvolvido em seis edifícios (SIN01-06) com conclusão prevista até 2030. O investimento, que tem sido apresentado publicamente pela Start Campus e por várias entidades governamentais, é apontado como estratégico para colocar Portugal no mapa internacional das infraestruturas digitais.

Um dos aspetos distintivos do projeto é a aposta em sistemas de arrefecimento baseados em água do mar, que funcionam em circuito fechado, sem perdas por evaporação. Desta forma, evita-se a utilização de água potável, um recurso cada vez mais “pressionado” no território nacional. Além disso, a proximidade ao porto de Sines garante condições de conectividade internacional robustas, reforçando o papel de Portugal como ponto de ligação entre a Europa, África e a América.


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